Mensagem do Presidente | Março 2018
Há alturas em que devemos olhar um pouco para o passado para perceber o rumo que estamos a levar e para onde queremos ir. Vem isto a propósito de algo que se passou há 32 anos, em março de 1986.
Na altura era eu professor no Instituto Superior Técnico e tinha um gabinete de consultoria de engenharia hidráulica e recursos hídricos conjuntamente com outros colegas, quando fomos contactados pelo CEEETA para uma reunião. Não vou referir nomes, pois poderia esquecer algum injustamente.
O CEEETA – Centro de Estudos de Economia de Energia Transportes e Ambiente, tinha sido fundado no verão de 1985 por um grupo de 27 engenheiros e economistas, que queriam olhar para o futuro nas áreas da Energia, Transportes e Ambiente sem deixar de se preocuparem com a sustentabilidade das soluções analisadas.
O papel deste centro foi determinante para o que se veio a desenvolver nos anos seguintes, mais na área da Energia e do Ambiente. Posso dizer, sem qualquer interesse pessoal pois não integrava o grupo dos 27, que o trabalho feito pelos colaboradores do CEEETA foi de um alcance e de uma visão estratégica relevante, e acrescenta que a evolução da tecnologia e das questões do Ambiente, em especial tudo o que se refere à emissão de gases com efeito de estufa, vieram provar que aquelas pessoas estavam já certas naquilo que identificaram como temas relevantes para a sustentabilidade da sociedade no futuro.
Na referida reunião fomos desafiados a fazer uma análise de custos a nível de estudos de viabilidade de mini-hídricas, como se designavam na altura as pequenas centrais hídricas até 10MW. Os meus colegas e eu aceitámos o desafio e lá fizemos o melhor que sabíamos e, em meados de 1987, entregámos o relatório em que se englobavam situações de recuperação de centrais abandonadas e também casos de situações novas.
Muito posteriormente vim a saber que outros grupos abordaram outras tecnologias, como a solar fotovoltaica e a eólica. Do resultado dessas análises foi possível concluir que, à data, a tecnologia que estava suficientemente madura tecnicamente e que se poderia sustentar económica e financeiramente era a da pequena hidráulica.
Em resumo, foi há 32 anos com a reunião atrás citada que dei os primeiros passos no setor da eletricidade renovável, e o estudo que elaborei com os meus colegas ajudou a contribuir para o enquadramento da abertura do setor da produção elétrica a privados, que se consubstanciou no Decreto-Lei 189/88 de 27 de maio. Esta primeira etapa apenas abriu o setor a investidores de centrais hidroelétricas até 10 MW.
Mal sabia eu que este estudo encomendado numa reunião que teve lugar há 32 anos marcaria tanto o resto da minha vida profissional, e que estaria na base duma transformação muito grande no setor elétrico nacional.
Na altura não tinha essa consciência, mas desde a viragem para este século, mais convicto e determinado estou na mensagem que:
Portugal precisa da nossa energia.